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MÁ COMUNICAÇÃO GERA MÁ SOLUÇÃO

  • Foto do escritor: Rochelle Jelinek
    Rochelle Jelinek
  • 15 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de abr. de 2022


Negociações mal sucedidas, contratos não fechados, argumentações ineficientes, falas mal elaboradas, discussões, quebra de relações. De um modo geral, todos nós temos alguma dificuldade de comunicação – que é justamente a principal habilidade do ser humano: se comunicar para se relacionar.


Se as pessoas conseguissem se comunicar melhor, menos mal entendidos iriam ocorrer, menos injustiças (quantas decorrem de falta de compreensão e de empatia?), mais consensos teríamos. Problemas comuns ocorrem justamente por problemas de comunicação.

E além da comunicação inadequada ser a mola propulsora de conflitos, a falta de uma comunicação eficiente contribui para não se chegar a uma solução para eles.


Vamos pensar que toda negociação é um processo de comunicação interativo. Em outras palavras, sempre que você está conversando ou fazendo uma tratativa com alguém sobre qualquer coisa, está negociando. É uma troca de mensagens entre interlocutores que procuram influenciar o outro de alguma forma sobre o que estão pensando e querendo, para fazer compreender seu ponto de vista ou motivar uma ação do outro.


E se a comunicação não é eficiente, a negociação não funciona. Você perde oportunidades, tempo, dinheiro, relacionamentos – sejam eles pessoais ou profissionais.


Além de alguns problemas internos de comunicação bastante comuns ligados a medos e bloqueios, baixa autoestima e autoconfiança, que afetam o desempenho da expressão, da postura e do poder de convencimento, existem também dificuldades de oratória como falta de imposição da voz, voz pouco potente, linearidade que mantém um tom monocórdio, velocidade inadequada (muito lenta ou muito rápida), ausência de pausas, não olhar para quem está falando, que geram desatenção e desinteresse do interlocutor.


E existem os problemas da habilidade de comunicação (falada e escrita) propriamente dita. Eles geram conflitos, mal entendidos, má compreensão, não conectam, não convencem. Os mais comuns (e por incrível que pareça, quem os tem geralmente não reconhece) são esses:


*Falta de clareza – Toda fala ou escrita deve ter uma estrutura, ou seja, um objetivo, um começo, um meio e um fim. Parece o óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito. Há pessoas que começam pelo meio, terminam pelo começo e desenvolvem aquilo que deveriam deixar para o final. Não têm uma estrutura de raciocínio lógico-dedutivo ou empregam de forma equivocada conjunções (porquanto, logo, embora,...) estabelecendo relações que mudam o sentido do que é dito. Falta-lhes focar no QUE, no POR QUE e no PARA QUE dizem algo.


*Ruídos e vícios de linguagem – São os elementos paralelos e secundários à mensagem, cacoetes e sons diversos que alteram a qualidade da mensagem que é passada. O excesso de “aaaa” "ãããã" “nés”, “tás”, “certos”, “percebes”, “eee...” gera impaciência e chama atenção para o vício e não para o conteúdo da mensagem. A audiência fica contando quantos desses vícios ocorreram e deixa de prestar atenção no conteúdo da fala.


*Dificuldade de vocabulário e lacunas de informação – É até comum a pessoa querer dizer alguma coisa, ela tem a ideia na cabeça, mas não consegue encontrar rapidamente a palavra para externar esse pensamento. Decorre muito da pobreza de informação, de conhecimento e de leitura, o que gera pobreza de vocabulário, e também da falta de concentração ou segurança, que fazem fugir as palavras certas e adequadas.


*Prolixidade – Em vez de ir direto ao assunto, rodeia, tergiversa, roda, volta ao mesmo ponto, usa excesso de informação e de palavras para dizer o que poderia ser dito com a metade delas, peca pela ênfase em minúcias, é repetitivo. Torna a mensagem enfadonha e compromete a mensagem que quer passar e o processo de convencimento do outro.


*Inteligibilidade – Ocorre pelo uso exagerado de arcaísmos, expressões desusadas, preciosismo, expressões sofisticadas, plebeísmos inadequados ou vulgares, jargões específicos (como o “juridiquês”): "não obstante", "já olvidado", "retromencionado", etc.


*Excesso de subjetividade: Comunicação excessivamente opiniática, com carga emocional, vieses cognitivos, carregada de adjetivos e de advérbios (“totalmente descabida”, “absurdamente inadequada”, "irrefutavelmente provada"), que causam aversão e afastam a receptividade do receptor.


*Pobreza na neurocomunicação: O QUE se diz/escreve é apenas 7% da comunicação. Para conectar a atenção do receptor, é preciso utilizar vários outros elementos de comunicação não verbal: visual, sensorial, sinestésico. A ausência de conhecimento e habilidade enfraquece o entendimento e a conexão com o receptor.


A parte mais difícil é justamente reconhecer e admitir essas dificuldades, pois a solução é relativamente simples, dependendo apenas de orientação adequada, treinamento e destreza experimental. O uso do estilo chamado "plain language"[1] ajuda a construir melhor fala e escrita. A questão é que muitos vieses cognitivos e o ego fazem superestimar a habilidade de comunicação e impedem de ver as falhas e dificuldades e buscar dribrá-las.


Comunicação não é só falar e escrever. É conseguir compreender, ser compreendido e construir entendimento e conexão.



[1] https://www.negociacaojuridica.com/post/acordos-e-contratos-com-comunica%C3%A7%C3%A3o-clara-poupam-tempo-e-dinheiro




 
 
 

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